ENTRE O EFÊMERO E O ETERNO




Não podemos eternizar nada daquilo que realmente importa, porque nada nos pertence.
A beleza, a alegria, o prazer, o afeto, o tempo... tudo é fugidio ante a nossa fome de eternidade.
Queremos que a beleza da aurora e o encanto do crepúsculo durem para sempre.
Mas somos obrigados a, como Deus, manter as nossas mãos sempre abertas. 
Não haverá encantamento se não mantivermos as nossas mãos abertas, a nossa alma igualmente aberta e os nossos pés descalços. Sejamos sempre conscientes do nosso inacabamento. 
No fundo, a nossa fome de que a alegria e o encantamento permaneçam e não se esvaiam faz com desejemos, por um momento, guardar,  prender aquilo que nos trouxe paz e/ou felicidade.
Entretanto, tudo que enfeitiça é efêmero! Portanto, tratemos logo de degustar, saborear, libertar, experimentar, vivenciar... Amemos a coisa no exato momento em que ela acontece, sem dominar, sem protelar... Como também não devemos deixar passar despercebido nada daquilo que tem o poder de iluminar nossas vidas.
Assim, paradoxalmente, tudo o que passa permanecerá, porque hospedamos em nós aquilo que amamos.
A nossa memória afetiva é aquele poder que nos foi dado de eternizar a efemeridade. Aquela doce ilusão de que as pessoas, as vivências e as coisas que nos afetam irão  durar para sempre.

Gilmara Belmon

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