VIVER



"Eu vou morrer?"
Perguntou-me algumas semanas antes de ter partido deste mundo e eu, embora não tivesse tempo hábil para elaborar uma resposta à altura da pergunta, respondi sem jeito: "Todos iremos um dia!"
Mas nós duas sabíamos do que ela estava anunciando em sua pergunta.
Ela sabia que a doença apressaria a sua morte.
Mainha era sábia, muito sábia! Não era fácil poupá-la. Mas ela não queria perder a esperança, sem a qual ela não poderia lutar pela vida. Mas não era qualquer vida!
Mainha queria VIVER, bem assim, com todas as letras em caixa alta.
Ela queria a sua autonomia de volta, queria sua força de volta para dar vazão aos seus desejos, sonhos e criatividade que eram bem maiores do que a força do seu corpo naquele momento. Tanto incômodo , tanta gente revezando para cuidar dela, tanto vai e vem da casa para o hospital e do hospital para casa. Tudo isso eram como pedras em seu caminho ... Havia ainda tanta coisa para criar, fazer , experimentar...
Não há o que lamentar, eu sei.
Há muito o que agradecer.
Mainha viveu, amou, educou, sofreu, foi alegre e deixou o seu legado .
A gente sabe que ela está em paz, sem sofrimento e feliz.
Mas ter ciência disso não faz a saudade desaparecer. Não é verdade que o tempo ajuda, não é verdade que a gente se acostuma. A gente pode viver a rotina de antes, a gente pode rir, dar gargalhadas, cantar, dançar, festejar..
mas a dor está lá dentro da gente, tomando toda a nossa alma. Ela não disputa com as belas memórias, ela simplesmente está no seu devido lugar.

Gilmara Belmon 



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